sábado, 24 de janeiro de 2009

Crise política no RS e novos rumos à democracia

O Estado do Rio Grande do Sul e o Brasil, mais uma vez, se depara com um escândalo na cena da vida pública. O pretenso corruptor, Secretário de Estado, reivindica a falta de ética do corrupiando em potencial – nada mais que o Vice- governador. Destaca, ainda, o pretenso corruptor, em sua inquirição pública a “quebra de confiança” que ficou evidenciada na gravação, segundo ele ardil e secreta, que portanto “sem ética”. Afinal de contas, afirma, era uma conversa oficial de governo! O Chefe da Casa Civil revela que o vice-governador gravou a conversa visando expor sua imagem; “foi uma punhalada pelas costas”. Magoadamente se sentiu “um otário”. De certo que alguns poderão neste contexto dizer: mas não houve corrupção; outros dirão, mas houve uma “tentativa!”. O pretenso corruptor virou vítima; o Vice-governador, traidor, sem ética e... Culpado. Sim essa foi a tese do ex-chefe da Casa Civil do RS.

Sem juízo do mérito desse fato lamentável da cena da política brasileira; o artifício da degola pública me causa sobremaneira rejeição; não vejo com bons olhos o instrumento que faz do parlamento um tribunal; pra bem da verdade creio seja um expediente de certa anacronia , que carrega em si uma forma de excomunhão no mais belo estilo canônico; não visa um debate de concepções e concertações da política; mas sim uma auto-afirmação vil, que não tem respostas concretas a problemática colocada no cerne da real discussão política. Encilha-se na crise visando um aparecimento público. Ora até o Tucanato do PSDB, que é o partido organizador da crise sentou no banco da acusação, da inquirição; esquecendo que deu início no país a mensalões (de MG para o Planalto), à corrupção do Detran Gaúcho (destaque que a CPI é a CPI do Detran RS), das privatizações criminosas no Brasil (caso da Vale, entre outros). É vale a velha cantilena “tem gente que adora defunto pra poder ir no velório”.

O escândalo tem direta relação com o fraco desempenho do Congresso Nacional; por sua morosidade; sua falta de produção legislativa; de sua inoperância. De um legislativo Central que não consegue se autonomizar, não do executivo, mas sim, dos recursos públicos que são gestionados por este; freqüentemente vota casuisticamente; por algumas migalhas que terão desdobramentos pontuais. Não há labuta legislativa em temas da estrutura sucateada de Estado. Grande parte dos deputados federais não estão imbuídos de uma vontade legiferante; são representantes na busca de recursos financeiros a seus nichos políticos; isso pra não fazer uso de expressões da república velha (currais eleitorais teria contexto); nada contra, mas é muitíssimo... pouco. A crise é originária no “modus operandi” do sistema político brasileiro vigente; sistema debilitado que há muito necessita da Reforma Política e de Estado; essas que podem vir a ser um salto qualitativo em nosso sistema político pós-constituição de 88.

Corrigir distorções da representação legislativa; fazer um profundo debate do já surrado assunto dos financiamentos de campanhas; avançar no empoderamento da cidadania ativa; na democracia cotidiana e permanente; inverter a lógica de pequenos e predefinidos espasmos de democracia. A corrupção tem amparo na legalidade; corruptor e corrupiando sempre quando “pegos” lamentam e bravateiam: Esse é o Sistema!

Precisamos, nós, articular as condições a uma futura Reforma Política e de Estado. Ela é necessária ou estaremos fadados a ridicularização; a banalização dos atores públicos e da coisa pública; entraremos no Estado das escutas; das espionagens; das inquirições; da mafialização da política; do crescimento do Estado Polícia, que infelizmente putrefa os avanços do Estado Democrático de Direito, arruína as garantias sociais adquiridas - que ainda cheiram a suor e sangue de uma geração. Teremos retrocessos nas conquistas “lentas e graduais” de nossa democracia. É necessário, portanto, que a vanguarda política tenha capacidade de ideologizar a discussão sob pena do conjunto da sociedade, sem opção, tome rumos que recrudesçam o pensar e, neste sentido, rebaixe o pensamento crítico. Talvez vivamos períodos piores na, já, combalida ética hegemônica. É neste sentido que temos que, sempre, apontar rumos que dialoguem com o seio da sociedade que olha com desconfiança a classe política operante. Articular o conteúdo político e as frentes transformadoras deve ser o sentido do discurso e da proposta política; orientar a intervenção da sociedade crítica e conseguir trazer consigo aqueles e aquelas que não se vêem nestes escândalos. Fazer transformações que repercutam no cotidiano da barbárie. Assim poderemos dar novos rumos à democracia.


Atualizado em 10/06/2008
Jeferson Henrique A. Pereira

Nenhum comentário:

Postar um comentário